Utilisateur:Azurfrog/Bouregreg portugais

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== Population ==
On estime que, au moment de l'indépendance, la population de la République était de {{formatnum:13000}} à {{formatnum:20000}} habitants, incluant les ''Hornacheros'', les Mauresques et Andalous, ainsi que des minorités diverses, telles que renégats venus d'Europe, esclaves et Maures. Bien que cette communauté ait été musulmane, les différentes coutumes qui s'y pratiquaient éraient considérées avec une certaine suspicion par leurs voisins. Le manque de données sur la population de l'embouchure du [[Bouregreg]] au {{s-|XVII|e}} interdit de connaître avec précision la population de la République au delà des indications que fournit l'analyse des témoignages des chroniqueurs et voyageurs des documents et des archives contemporaines, qui avances des chiffres contradictoires {{HarvRef}}  . Étant le port le plus important au Maroc, Salé était l'une des villes les plus peuplées du royaume. Les voyageurs européens distinguaient six populations complètement différentes : les « naturels turcs », les Morisques (les musulmans d'origine ibérique), les juifs, les renégats originaires d'Europe, les esclaves noirs et les esclaves chrétiens. Toutefois, étant donné la forte prédominance des [[Morisques]], les autres groupes étaient en réalité décrits comme des minorités ethniques de peu d'importance. En 1635, le Père Dan implique que la cité corsaire est principalement habitée par des « naturels turcs » et maures.12 Un siècle plus tard, le capitaine anglais John Braithwaite se réfère aux habitants de Salé en des termes similaires. 


; População :
[[Imagem:Mola Pirata.jpg|thumb|upright=0.9|[[Piratas da Barbária|Pirata da Barbaria]] numa ilustração do {{séc|XVII}}. Estima-se que à data da sua independência, a população da república fosse de {{formatnum:13000}} a {{formatnum:20000}} habitantes, a maioria [[mouriscos]] andaluzes e ''hornacheros'' e várias minorias de [[renegado]]s europeus, escravos e mouros. Embora muçulmanos, os diferentes costumes desta comunidade eram vistos com alguma desconfiança pelos seus vizinhos.]]
<!-- Introdução -->
A falta de dados relativos à população da foz do Bu Regregue no {{séc|XVII}} não permite conhecer de forma precisa a população da república, indicada apenas pela análise dos testemunhos dos cronistas e viajantes contemporâneos e de documentos de arquivo, os quais fornecem números contraditórios.{{HarvRef|name=Maz8|Maziane|2009|p=8}} Sendo o porto mais importante de Marrocos, Salé era uma das cidades mais populosas do reino. Os viajantes europeus distinguiam seis povos completamente diferentes: "turcos naturais", mouriscos (muçulmanos de origem ibérica), judeus, renegado europeus, escravos [[negros]] e escravos cristãos. No entanto, dada a grande predominância dos mouriscos, os outros grupos seriam atualmente descritos como minorias étnicas pouco expressivas. Em 1635, o padre Dan deixa entender que a cidade corsária é principalmente habitada por "turcos naturais" e mouros.<ref name=Maz8 /><ref name=Dan210 /> Um século mais tarde, o capitão inglês [[John Braithwaite]] refere-se aos habitantes de Salé num tom semelhante:<ref name=Maz8 />
{{Citação2|bq=s|cinza=s|
1=Dividem-se em várias classes. Os mouros, que geralmente estão estabelecidos na costas, descendem daqueles que foram expulsos de Espanha. Os árabes não têm morada fixa (…) Há ainda aqueles que têm o nome de bérébères, que passam por ser a antiga raça dos mouros, habitam as montanhas (…) Os renegados, que podem considerar-se uma classe distinta, ainda que se encontrem em muito pequeno número. E por fim os negros.|
2=John Braithwaite (1700–1768){{HarvRef|Braithwaite|1729}}
}}

=== Évolution démographique ===

Pour estimer le nombre de [[Mauresques]], Leila Maziane<ref>{{harvsp|Maziane|2009|p=10}}</ref> se fonde sur les relations écrites par [[Léon l'Africain]] au début du {{s-|XVI|e}}, qui décrit ce qui est aujourd'hui [[Rabat]] comme une localité en pleine décadence, ainsi que sur celles de Luis del Mármol qui écrit avec plus de précision, quelques décennies plus tard qu'il existaient {{Citation|six cent foyers}}

; Evolução demográfica :
<!-- Fim do século XVI e início do XVII: estimativa do número de mouriscos na margem sul -->
Para estimar o número de mouriscos, Leïla Maziane{{HarvRef|name=Maz10|Maziane|2009|p=10}} baseou-se nos relatos escritos por [[Leão, o Africano]] {{nwrap||1494|1554}} no início do {{séc|XVI}}, que descreve o que é hoje Rabat como um local em grande decadência, e de Luis del Mármol que algumas décadas depois, escreveu, com mais precisão, que existiam ''«seiscentos [[Casa|fogos]], em quatro bairros perto do castelo, tudo o resto está reduzido a hortas.»''{{Harvy|Mármol|Mármol|p=142}} Admitindo que cada fogo (casa) teria em média seis pessoas, haveria entre três e quatro mil pessoas na cidade no fim do{{séc|XVI}}, pelo que estava reduzida a uma pequena aglomeração onde residia um governador e uma [[Guarnição (força militar)|guarnição]]<ref name=Maz10 />.

<!-- estimativa 2 -->
Uma carta de Juan Ludovic Rodriguez, relativa a uma possível tomada de Salé pelos espanhóis, datada de 1614, relata que a cidade não era muito povoada e teria cerca de {{formatnum:2000}} habitantes.<ref name=AGS_Lud /> Para o historiador [[Canárias|canário]] Alberto Anaya Hernández, Salé teria acolhido {{formatnum:3000}} hornacheros e cerca de {{formatnum:10000}} andaluzes.<ref name=AnayaH /><ref name=Lerme /> Esta estimativa é coerente com a comparação com outra cidade corsária importante de Marrocos, [[Tetuão]], destino de muitos andaluzes expulsos de Espanha, que viu crescer a sua população para cerca de {{formatnum:40000}} habitantes em 1610. Outra indicação da dimensão da comunidade mourisca de Salé a Nova é o provável recrutamento de 400 hornacheros no exército do sultão saadiano Moulay Zidane ([[#Zid400|referido acima]]), ocorrido pouco tempo depois da sua chegada.<ref name=Ifr270 /> O número de mouriscos que participaram nas campanhas lançadas contra o marabuto secessionista [[Ibn Abu Mahalli]] não é elevado, mas o facto de terem participado atesta que prestaram serviços ao sultão que os acolheu<ref name=Maz10 />.

<!-- estimativa 3 -->
Analisando todos estes dados, Leïla Maziane conclui que provavelmente a margem esquerda da foz do Bu Regregue teria pouco mais de {{formatnum:13000}} habitantes em meados do {{séc|XVII}}.<ref name=Maz10 /> O embaixador François Pidou de Saint-Olon relatava a {{Lknb|Luís|XIV||de França}} em 1693 que ''«os habitantes de Salé não são mais do que {{formatnum:20000}} e as guerras e as suas revoltas quase os arruinaram completamente.»'' O embaixador do Rei-Sol na corte do sultão marroquino referia-se ao conjunto das duas cidades, pois antes disso salienta que ''«Salé é ainda considerável pelas suas fortalezas, pelas suas cidades divididas como em [[Fez]] em velha e nova.»''{{HarvRef|Saint-Olon|1694|p=28}} Em 1680, Robert Fréjus escrevia que os habitantes de Salé (a Velha) não eram mais do que {{formatnum:5000}}.{{HarvRef|Maziane|2009|p=11}}{{HarvRef|Fréjus|1682|p=28}}

===Hornacheros e andaluzes===
[[Imagem:Hornachos in Spain 01.jpg|thumb|left|Vista da vila espanhola de [[Hornachos]], na [[Estremadura (Espanha)|Estremadura]]]]

Em Espanha, os muçulmanos de [[Hornachos]] constituíam uma casta privilegiada, uma espécie de república com autonomia administrativa, que impunha respeito, nomeadamente a {{Lknb|Filipe|II||de Espanha}}, que lhes concedeu o direito de usarem armas em troca do pagamento de {{fmtn|30000|[[Ducado (moeda)|ducados]]}}.<ref name=Guadal1 /> Ao contrário do que acontecia com alguns mouriscos, os hornacheros tinham preservado a fé muçulmana e até a língua árabe (alguns deles nem sequer falavam [[Língua castelhana|castelhano]]).<ref name=Coi42 /> Devido ao terror que inspiravam e à corrupção dos agentes da Coroa espanhola e da [[Inquisição espanhola|Inquisição]], a quem subornavam para que fossem seus cúmplices, conseguiram escapar a todas as perseguições<ref name=Bleda921 /> e anteciparam-se aos [[Expulsão dos Mouriscos|decretos de expulsão]],{{
NotaNT|Os decretos de [[expulsão dos mouriscos]] foram emitidos por {{Lknb|Filipe|III||de Espanha}} a 22 de setembro de 1609 e 18 de janeiro de 1610.{{HarvRef|Maziane|2009|p=1}}
}} abandonando Espanha levando com eles os seus bens. Habituados a batalhar, saquear e, por vezes, a fabricar moeda falsa, levaram para a sua nova terra os seus instintos de dominação e independência,<ref name=Coi42 /> que em conjunto com a sua riqueza{{HarvRef|Dan|1649|P=175}} e instalação precoce em Salé lhes permitiu ter um papel dominante na política local até 1630<ref name=Coi42 />.

{{Âncora|Zid400}}É provável que o corpo militar de 400 "andaluzes"{{NotaNT|1=O termo andaluz era e ainda é usado em Marrocos para designar as pessoas e temas ligados ao [[Al Andalus]] (nome da [[península Ibérica]] em árabe) e à cultura islâmica na península Ibérica.}} enviados por Moulay Zidane em 1609 para controlar a região do [[Rio Drá|Drá]], no sul, fosse constituída por hornacheros do Bu Regregue, eventualmente recém-chegados de Espanha.{{Harvy|name=Ifr270|Ifrani|al-Ifrani|p=270}}Aparentemente, a autorização dada pelo sultão aos [[Estremadura (Espanha)|estremenhos]] para se organizarem militarmente teve como objetivo subtrair a cidade aos desígnios políticos do seu sobrinho Mulay Abdallah<ref name=Lieven />.

===Outras minorias (renegados)===
As atividades económicas portuárias atraíram imigrantes de diversas origens à cidade corsária. Aos mouriscos expulsos de Espanha juntaram-se aventureiros de todo o tipo e origem, nomeadamente os que fugiram do reduto de piratas de [[Mamora]],  conquistado pelos espanhóis em 1614. Os piratas vindos de Mamora eram maioritariamente britânicos, mas Salé a Nova acolheu [[renegado]]s de muitas outras origens, vindos em busca de lucro e glória, e que levaram consigo importantes conhecimentos naúticos que foram importantes para o sucesso da atividade corsária. A cidade atraiu também um grande número de camponeses que procuravam escapar à miséria e à fome provocada por maus anos agrícolas na cidade em pleno progresso.{{HarvRef|Maziane|2009|p=12}}<ref name=Rosemb /> Apesar do número de árabes e berberes ter aumentado sensivelmente, os descendentes dos mouriscos continuaram a ser maioritários.{{HarvRef|Maziane|2009|p=13}}

Embora dominada pelos mouriscos, o número e relevância de minorias étnicas foi-se alterando ao longo do tempo. Os negros viriam a formar a elite do exército marroquino, os ''[[Abid al-Bukhari]]'', no reinado de [[Mulay Ismail]] e dos seus sucessores . No {{séc|XVII}} estabeleceram-se em Marrocos muitos europeus, quer de forma forçada (os cativos cristãos), quer para desenvolverem atividades comerciais. Além disso, havia em Salé uma importante colónia judia e diversos renegados de países cristãos. Em diversos portos marroquinos houve também [[Cônsul (serviço exterior)|cônsules]] de várias nações europeias, os quais eram acompanhados por corpos de religiosos que velavam pelos interesses dos seus compatriotas.{{HarvRef|Maziane|2009|p=9}}

=== Différences culturelles ===
; Traduction Google non retouchée... :

Les différences culturelles entre les Morisques d'Espagne et les populations voisines de la Nouvelle-Salé a provoqué une grande méfiance. Les habitants de la vieille Salé particulièrement connu pour sa religiosité orthodoxe, toujours douté de la sincérité de la foi de "pseudo-musulmans" qui se sont installés de l'autre côté de la Regregue Bu. <ref Name=Coi43 /> <nom ref = sihm27 / > {{HarvRef | Maziane | 2009 | p = 19}}

[[Image: Medersa de Salé.jpg | thumb | Intérieur de [[madrassa]] (école coranique) de Salé ancien]]

[[Image: Vente, SidiAbdallah1.jpg | thumb | [[Zaouia]] Sidi Abdallah ibn Hassoun, le patron de la vieille Salé]]

L'ambassadeur britannique John Harrison a écrit dans un rapport en date du 11 Septembre 1627 concernant les exilés de la Nouvelle-Salé ils sont nés chrétiens d'Espagne,'' 'était de [[baptême]], et avait été interdit, trahi et mis en mains des infidèles {{
NotaNT |
1 Extrait = original:'' 'Ils sont nés chrétiens en Espagne, batized, bannit, betraied entre les mains des infidèles »'' <ref Name=sihm27 />.
}} [...] Sont tout aussi bons, sinon meilleurs chrétiens qu'il n'y en a en Espagne ''' <ref Name=sihm97 /> Selon le diplomate britannique, avec le temps et avec l'aide de pays [[protestantisme. | protestants]], les Espagnols de la Nouvelle-Salé pouvait venir à un gouvernement chrétien. <ref name=sihm27 /> {{
NotaNT |
1 = John Harrison notes que les Morisques preuve de bonne volonté en libérant ses prisonniers et d'esclaves britanniques convertis de force à l'islam et la promesse de libérer les autres qui ont gardé caché par peur des Maures, qui se méfiaient de ses sentiments. Réf nom <= sihm27 / >
Les Marocains}} de la vieille Salé a appelé les nouveaux arrivants «chrétiens de Castille» et Sidi Ayachi, le chef politique et religieux de la région de [[Gharb Chrarda-Beni Hssen-| Gharb]], désireux de s'emparer de la Casbah d' assurer la maîtrise de l'estuaire et les recettes de la douane, les accusant d'être complices en espagnol [[Larache]] et Mamora <ref name=Ifr270 /> Dans le traité signé avec {{Lknb |. Carlos | I | | Angleterre en 1637}}, Ayachi demande aux alliés anglais pour bloquer la nouvelle vente jusqu'à ce que «petit bouquet d'infidèles qui s'étaient écartées de la religion orthodoxe» de la'' si vous soumettez'' ou'' dans son expression «communauté de reentrasse musulmans et installés dans leurs pratiques à la «locale'' {{Harvy |. SIHM | Castries | 1920 | p = 290. t. III}} Sidi Ayachi, qui se considérait comme un'' [[moudjahidines]]'' (la foi de chasse), il a même l'[[oulémas]] s (juristes musulmans) délivrer un'' [[fatwa]] ' »(décision) en déclarant qu'il était légitime de lutter contre les Andalous {{HarvRef | Maziane | 2009 | p = 19-20}}. {{Harvy | Ifrani | al-Ifrani | p = 444}}

Selon le professeur Amin Ahmed Bel-Gnaoui, les Morisques d'Espagne (ne précise pas si Hornacheros les Andalous ou les deux) d'abord installés à Salé et respecté les fêtes musulmanes, montrant toutefois quelques habitudes qui saletinos comprennent pas. Ils portaient des pantalons au lieu de'' [[djellaba]]'' (une sorte de [[tunique]] tradition arabo-[[Berbères|berbère]], version masculine de'' [[hijab]]''), pas rasé la tête mais aparavam la barbe, et pendant la [[Ramadan]] ont tué les agneaux, comme tous les musulmans, mais se sont comportés différemment, ce qui a conduit les saletinos et se demander s'ils étaient vraiment musulmans. Par cette méfiance instinctive se joindrait à l'envie causée par les excellentes qualifications des immigrés, à la fois en termes de métiers [[]] que dans le commerce et l'agriculture, et qui a grandement contribué à la relance de l'économie locale. Cela les a amenés à décider saletinos débarrasser d'eux. Il est dit que pour cette organisé une fête à l'extérieur des murs à laquelle ils ont invité les Morisques à la nuit tombée et rapidement retournés chez eux et ont fermé le mur, laissant les Morisques à l'étranger et de leur dire d'aller vivre de l'autre côté rivière<ref name=lm3546 />.

Les Morisques étaient donc dans une situation similaire à celle vécue en Espagne, où même ceux qui étaient devenus chrétiens convaincus étaient mal vues par les gens, de ne pas boire du vin ou préfèrent l'arabe au castillan. Déjà au Maroc, ont été désapprouvée parce que certains ont bu du vin, d'autres parlaient espagnol et il y avait encore des gens qui étaient encore chrétiens (qui n'a pas empêché d'être expulsés). Après avoir été contraints d'abandonner leurs terres sans éléments d'actifs, l'andalou mauresque atteint l'Afrique désireux de se venger et de restaurer les fortunes perdues. Ceux qui étaient catholiques ressenti encore plus d'un exilé contre lequel ils avaient protesté avec véhémence prétendant que les chrétiens vivaient sous la loi de l'Eglise et ne pouvait donc pas les forcer à passer à la [[Barbarie.]] <= Réf nom Coi44 />.

; Diferenças culturais :
<!-- Diferenças culturais dos imigrantes para os de Salé a Velha -->
As diferenças culturais entre os mouriscos vindos de Espanha e as populações vizinhas de Salé a Nova provocaram grandes desconfiança. As gentes de Salé a Velha em particular, conhecidas pela sua religiosidade ortodoxa, sempre duvidaram da sinceridade da fé dos "pseudo-muçulmanos" que se instalaram na outra margem do Bu Regregue.<ref name=Coi43 /><ref name=sihm27 />{{HarvRef|Maziane|2009|p=19}}

[[Imagem:Médersa de Salé.jpg|thumb|Interior da [[madrassa]] (escola islâmica) de Salé a velha]]

[[Imagem:Sale,SidiAbdallah1.jpg|thumb|[[Zaouïa]] de Sidi Abdallah ibn Hassun, o padroeiro de Salé a Velha]]

O embaixador inglês John Harrison escreveu num relatório de 11 de setembro de 1627 acerca dos exilados de Salé a Nova que eles tinham nascido cristãos em Espanha, ''«eram [[Batismo|batizados]], e tinham sido banidos, traídos e postos nas mãos dos infiéis{{
NotaNT|
1=Trecho original: ''«They were born Christians in Spain, batized, banishes, betraied into the hands of infideles»''.<ref name=sihm27 />
}} [...] são tão bons, senão melhores cristãos do que os não há em Espanha»''.<ref name=sihm97 /> Segundo o diplomata inglês, com o tempo e com a ajuda de países [[Protestantismo|protestantes]], os espanhóis de Salé a Nova podiam vir a ter um governo cristão.<ref name=sihm27 />{{
NotaNT|
1=John Harrison salienta que os mouriscos demonstravam a sua boa vontade libertando cativos ingleses e escravos convertidos à força ao Islão e pela promessa de libertar outros que mantinham escondidos por recearem os mouros, os quais suspeitavam dos seus sentimentos.<ref name=sihm27 />
}} Os marroquinos de Salé a Velha chamavam aos recém-chegados "Cristãos de Castela" e Sidi Ayachi, o líder político e religioso da região do [[Gharb-Chrarda-Beni Hssen|Gharb]], desejoso de se apoderar da Casbá para assegurar o domínio do estuário e das receitas da alfândega, acusava-os de serem coniventes com espanhóis de [[Larache]] e Mamora.<ref name=Ifr270 /> No tratado assinado com {{Lknb|Carlos|I||de Inglaterra}} em 1637, Ayachi pede aos aliados ingleses que bloqueiem Salé a Nova até que o ''«pequeno bando de infiéis que se tinham desviado da religião ortodoxa»'' se lhe submetesse ou, nas suas palavras ''«reentrasse na comunidade dos muçulmanos e adequassem as suas práticas às dos locais»''.{{Harvy|SIHM|Castries|1920|p=290. t. III}} Sidi Ayachi, que se considerava um ''[[mujahidin]]'' (combatente da fé) chegou mesmo a conseguir que os [[ulemá]]s (juristas islâmicos) emitissem uma ''[[fatwa]]'' (sentença) que declarava que era lícito lutar contra os andaluzes.{{HarvRef|Maziane|2009|p=19-20}}{{Harvy|Ifrani|al-Ifrani|p=444}}

Segundo o professor Ahmed Amin Bel-Gnaoui, os mouriscos espanhóis (não especifica se os hornacheros ou os andaluzes ou ambos) instalaram-se inicialmente em Salé e respeitavam as festividades muçulmanas, demonstrando no entanto ter alguns hábitos que os saletinos não compreendiam. Usavam calças em vez de ''[[djellaba]]'' (espécie de [[túnica]] tradicional entre árabes e [[berberes]], versão masculina do ''[[hijab]]''), não rapavam a cabeça, mas aparavam a barba, e durante o [[Ramadão]] matavam cordeiros, como todos os muçulmanos, mas comportavam-se de maneira diferente, o que levava os saletinos a interrogarem-se se eles seriam realmente muçulmanos. A esta desconfiança instintiva juntava-se a inveja causada pelas excelentes qualificações dos imigrados, tanto em matéria de [[artesanato]] como no comércio e na agricultura, e que muito contribuíram para o relançamento da economia local. Isto levou os saletinos a decidirem desembaraçar-se deles. Conta-se que para isso organizaram uma festa fora das muralhas para a qual convidaram os mouriscos e ao cair da noite voltaram rapidamente a suas casas e fecharam as portas da muralha, deixando os mouriscos no exterior e dizendo-lhes para irem viver do outro lado do rio<ref name=lm3546 />.

Os mouriscos viram-se assim numa situação semelhante à que viviam em Espanha, onde até aqueles que se tinham tornado cristãos convictos eram mal vistos pela população, por não beberem vinho ou preferirem o árabe ao castelhano. Já em Marrocos, eram mal vistos porque alguns bebiam vinho, outros falavam castelhano e havia ainda alguns que continuavam cristãos (o que não tinha impedido de terem sido expulsos). Tendo sido forçados a abandonar as suas terras sem quaisquer bens, os mouriscos andaluzes chegaram a África desejosos de se vingarem e de reconstituir as fortunas perdidas. Os que eram católicos ressentiam-se ainda mais dum exílio contra o qual tinham protestado veementemente alegando que eram cristãos vivendo segundo a lei da Igreja e que por isso não os podiam forçar a ir viver para a [[Barbaria]]<ref name=Coi44 />.

===Língua e religião ===
<!-- língua -->
A mistura de mouros espanhóis exilados com holandeses, alemães e ingleses, fez nascer uma ''[[lingua franca]]'' peculiar, à base de espanhol misturado com {{ling|ar}}, {{ling|fr}}, {{ling|pt}} e {{ling|it}}.<ref name=Barnaby /> Os muçulmanos banidos de Espanha continuaram a usar a língua castelhana. Os membros do ''diwan'' (governo) da república usavam essa língua na sua correspondência e nos tratados assinados com os europeus. Também mantiveram os seus nomes espanhóis, apesar de os terem deformado: Vargas passou a Bargas, Pelafres a Balafrej, Blanco a Barco, Carrasco a Carrachkou, etc.{{HarvRef|name=Maz21|Maziane|2009|p=21}}<ref name=sihm16 />{{HarvRef|Chénier|1787|p=26}}

<!-- religião -->
Alguns deles tinham uma fé incerta, produto de sucessivas [[apostasia]]s. Para os frades [[capuchinhos]], os novos saletinos ''«eram ainda cristãos na sua alma»''.{{HarvRef|Angers|1644|p=341}} O governador português de [[Mazagão (Marrocos)|Mazagão]], [[Jorge de Mascarenhas]] conta numa carta dirigida a Filipe III que perguntou a um saletino se as saudades de Espanha se atenuavam e que este lhe respondeu chorando emotivamente que ''«era cristão e pedia a Deus para morrer em Espanha.»''<ref name=Maz21 /><ref name=sihm49 />